01/10/2009

Trechos do "Livro do Desassossego" Bernardo Soares – Pseudônimo de Fernando Pessoa

Impression, Soleil Levant de Claude Monet

"…Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo. Todos estes meios tons da consciência da alma criam em nós uma paisagem dolorida, em eterno sol-pôr do que somos...Há mágoas íntimas que não sabemos distinguir, por o que contêm de sutil e de infiltrado, se são da alma ou do corpo..."

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"Cada qual tem o seu álcool. Tenho álcool bastante em existir. Bêbado de me sentir, vagueio e ando certo. Se são horas, recolho-me ao escritório como qualquer outro. Se são são horas, vou até o rio fitar o rio, como qualquer outro. Sou igual. E por detrás de isso, céu meu, constelo-me as escondidas e tenho o meu infinito…"

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"…E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como uma criança inoportuna: um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende..."

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“…Quanto mais alta a sensibilidade, e mais sutil a capacidade de sentir, tanto mais absurdamente vibra e estremece com as pequenas coisas. É preciso uma prodigiosa inteligência para ter angústia ante um dia escuro. A humanidade, que é pouco sensível, não se angustia com o tempo, porque faz sempre tempo; não sente a chuva senão quando lhe cai em cima..."

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"…Ah, quem me salvará de existir? Não é a morte que quero, nem a vida: é aquela outra coisa que brilha no fundo da ânsia como um diamante possível numa cova a que se não pode descer. É todo o peso e toda a mágoa deste universo real e impossível, deste céu estandarte de um exército incógnito, destes tons que vão empalidecendo pelo ar fictício, de onde o crescente imaginário da lua emerge numa brancura elétrica parada, recortado a longínquo e a insensível…"

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2 comentários:

ThinkFloyd61 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ThinkFloyd61 disse...

Oi, quero lhe dar parabéns pela concepção do seu blog, muito bem personalizado e agradecer a felicidade nos trechos que optou. Fiz login, contente em participar. Obrigado. Faça uma visita no http://thinkfloyd61.blogspot.com/, sempre bem vinda! Abraço :)

22/06/11 23:09

 
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